domingo, 29 de agosto de 2010

Santa Josefina Bakhita

08 de Fevereiro

Santa Josefina Bakhita, a Afortunada de Deus

"Se tivesse hoje a oportunidade de encontrar os mercadores de escravos que me capturaram e até mesmo aqueles que me torturaram, eu ajoelharia e beijaria suas mãos, pois se isto não tivesse acontecido, eu, hoje, não seria cristã e religiosa." Santa Josefina Bakhita

Bakhita nasceu no Sudão, região de Dafur na África, no ano de 1869 e através de suas poucas informações sabemos que sua aldeia natal é Olgossa, cuja pronúncia é “algoz”, que em árabe significa “Dunas de Areia”.



De família abastada, seu pai possuía terras, plantações e gado; ele era irmão do chefe da aldeia. Sua família era composta pelos pais e sete filhos, sendo muito unidos e afeiçoados.


Não devemos nos esquecer de que, apesar de possuírem terras, gado, etc., viviam num aldeia onde as cabanas eram de barro com telhado de palha. Todos nas aldeias estavam sujeitos ao grande perigo que eram os bandos negreiros que raptavam homens, mulheres e crianças para negociar no mercado de escravos.


No ano de 1874, sua irmã mais velha foi raptada. A dor dilacerou o coração daquela família tão unida e feliz.


“Bakhita” não foi o nome que recebera dos pais quando nasceu. No ano de 1876, com mais ou menos 7 anos de idade, foi raptada e arrancada do seio de sua família. A pequena menina tomada de pavor, foi levada brutalmente por dois árabes e foram eles que impuseram o nome de “Bakhita”, que significa: “afortunada”.


A pequena escrava, depois de um mês de prisão, foi vendida a um mercador de escravos. Na ânsia de voltar para casa, Bakhita se arma de coragem e tenta fugir. Porém, foi capturada por um pastor e revendida a outro árabe, homem feroz e cruel, que, por sua vez, revendeu-a a outro mercador de escravos.


Novamente ela é vendida a um general turco, cuja esposa era mulher terrivelmente má. Desejou marcar suas escravas e Bakhita estava entre elas. Chamou então uma tatuadoura que, com uma navalha, ia marcando os corpos das meninas que se contorciam de dores, mergulhadas numa poça de sangue. Bakhita recebeu no peito, no ventre e nos braços 114 cortes de navalha que eram esfregados com sal para que as marcas ficassem bem abertas. A jovens escravas foram jogadas sem tratamento e nenhum cuidado, durante um mês.


No ano de 1882, o general turco vendeu Bakhita ao agente consular Calisto Legnani que seria, para ela, seu anjo bom. Na casa do cônsul, Bakhita conheceu a serenidade, o afeto e os momentos de alegria, lembranças dos momentos felizes na casa dos pais.


Em 1885 o sr. Calisto é obrigado a retornar à Itália; Bakhita pede para acompanhá-lo e obtêm consentimento. E assim partiram em companhia de um amigo, o sr. Augusto Michieli, a quem o cônsul presentearia em Gênova com a jovem africana.


Chegando à Itália com seu 7º “patrão”, o rico comerciante Michieli, foi para vila Zianino de Mirano Veneto onde Bakhita se tornou babá de Mimina, a filhinha do casal. Apesar de serem pessoas boas e honestas, não eram praticantes de religião. Como sempre, Deus tem seus caminhos e acabou colocando no caminho de Bakhita, o administrador dos Michieli, Iluminato Chechini.


Iluminato era um homem muito religioso e logo se preocupou com a formação religiosa de Bakhita; e ao dar um crucifixo a ela, disse em seu coração: “Jesus, eu a confio a Ti”.


Quando os Michieli tiveram de voltar para Suakin, na África, por motivos de negócios, Bakhita e a pequena Mimina ficaram aos cuidados das Irmãs Canossianas, em Veneza, e isto graças ao sr. Iluminato.


Bakhita iniciou o catecumenato (catequese para receber os sacramentos iniciais), no Instituto das Irmãs. Ao final de nove meses, a sra. Maria Turina voltou à Itália para buscar sua filhinha Mimina e aquela que considerava sua escrava, pois retornariam à África.


Naquele instante, Bakhira já toda apaixonada por Jesus, prestes a receber os sacramentos, recusa-se a voltar para a África, apesar do afeto que nutria pela família Michieli e principalmente pela pequena. Sentia em seu coração um desejo inexplicável de abraçar a fé e vivê-la para sempre.

 
Apesar dos apelos e até ameaças da sra. Michieli, nossa jovem africana não cedeu em sua minima resolução. Bakhita estava livre, na Itália não havia escravidão. Sua patroa retornou à África com sua filha e Bakhita prosseguiu com sua catequese, feliz mesmo sabendo que seria a última chance de rever seus familiares na África.


No dia 09 de janeiro de 1890, Bakhita é batizada, crismada e recebe a 1° comunhão das mãos do Patriarca de Veneza, Cardeal Agostini. No batismo recebe o nome de Josefina Margarida Bakhita. Ela descreveria este dia como mais feliz de sua vida: sentir-se filha de Deus era-lhe uma emoção inigualável, assim como receber Jesus na eucaristia era o Céu na Terra.


Bakhita nutria em seu coração o sublime desejo de se tornar religiosa, uma Irmã Canossiana. Josefina Bakhita foi aceita na congregação das Filhas da Caridade Canossianas, servas dos pobres e, depois de três anos de noviciado, no dia 08 de dezembro de 1896 pronunciou os votos de: Castidade Pobreza e Obediência.


Depois da profissão religiosa, nossa Irmã Bakhita foi transferida para a cidade de Schio, em outra obra da Congregação, e lá permaneceu por 45 anos, onde passou a ser conhecida como a “Madre Morena”.


Irmã Bakhita era atenciosa com todos, sem distinção, desde as crianças do colégio, seus pais, sacerdotes, com suas irmãs religiosas, etc., sempre levando a todos palavras de conforto, consolo e amor incondicional a Deus Pai.


Em todas as funções que exerceu, sempre colocou seu coração doce e sincero na Igreja, na Sacristia, na portaria ou na cozinha, era tudo para todos, com seu sorriso de anjo.


Irmã Bakhita, em sua infância na África, mesmo sem saber nada de Deus, pensava em seu coração inocente e puro, quando olhava a lua e as estrelas: “Quem será o patrão de todas estas coisas?”. Oh! Bakhita, Deus já estava te preparando para Ele!


Bakhita sonhava com a conversão do povo africano e, no dia de sua profissão religiosa, rezou: “Ó Senhor, se eu pudesse voar lá longe, entre a minha gente e proclamar a todos, em voz alta, a tua bondade. Oh! Quantas almas eu poderia conquistar para Ti! Entre os primeiros, a minha mãe e o meu pai, os meus irmãos, a minha irmã ainda escrava... e todos, todos os pobres negros da África. Faça, ó Jesus, que também eles te conheçam e te amem!”.


No ano de 1947 Bakhita adoeceu, já quase sem forças, em cadeira de rodas, passava horas em oração, em adoração e contemplação. Era o dia 08 de fevereiro de 1947, nossa Irmã Morena murmurava: “Como estou contente! Nossa Senhora! Nossa Senhora!”.


Depois de algum tempo, em seus últimos momentos, disse: “Vou-me devagarinho para a eternidade... Vou com duas malas: uma contém os meus pecados; a outra, bem mais pesada, contém os méritos infinitos de Jesus Cristo. Quando eu comparecer diante do Tribunal de Deus, cobrirei a minha mala feia com os méritos de Nossa Senhora. Depois abrirei a outra e apresentarei os méritos de Jesus Cristo. Direi ao Pai: ‘Agora julgai o que vedes’. Estou segura de que não serei rejeitada! Então me voltarei para São Pedro e lhe direi: ‘Pode fechar a porta porque eu fico!”


Às 20 horas, irmã Bakhita entrega sua alma a Deus. O povo em grande multidão quer dar o último adeus à Madre Morena, sua fama de santidade se espalhou rapidamente e todos recorriam ao seu túmulo pedindo sua intercessão.


Em 17 de maio de 1992 foi beatificada e, em 1º de outubro de 2000, foi elevada à honra dos altares, declarada “Santa” pelo nosso Santo Padre, o Papa João II, sendo que o milagre que a levou a ser reconhecida como Santa, aconteceu em Santos, no Brasil.


Santa Bakhita deve sempre inspirar sentimentos de confiança na Providência, doçura para com todos e alegria em servir


Reflexão:
Como sofreu a piedosa Bakhita! Mas como foi marcada sua vida pela presença de Deus, mesmo sem conhecê-Lo! É ela um exemplo de como todos os dias abraçar sua Cruz, e perdoar os que mais nos machucaram. Grande exempl de fé, caridade, e amor com o próximo, sem fazer distinção de aparência ou diferenças. Que seu testemunho possa ensinar todos os cristãos a amar incondicionalmente ao próximo, especialmente os que nos feriram. Santa Josefina Bakhita, afortunada de Deus, rogai por nós!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Santo Agostinho

29 de Agosto

O mais profundo filósofo da era patrística e um dos maiores gênios teológicos de todos os tempos foi Santo Agostinho (354-430), cuja influência plasmou a Idade Média.
Nasceu em Tagaste (Numídia), filho de um funcionário municipal, Patrício, e de Mônica, fervorosa cristã, que a Igreja venera como santa.
Como estudante, vivia desregradamente. Contraiu uma ligação – que iria durar até 384, e da qual teve um filho, Adeodato. Em 374, lendo o Hortensius, de Cícero, sentiu-se atraído por uma vida menos sensual e mais dedicada à busca da verdade. Passou a freqüentar as lições dos maniqueus, que lhe pareciam propor a autêntica forma de cristianismo, em oposição à doutrina da Igreja, “uma história de velhas”.
De 375 a 383 estabeleceu-se em Cartago, como professor de eloqüência, e daí por diante obteve exercer a mesma função do outro lado do mar, em Milão. Já o inquietavam agora fortes dúvidas sobre a verdade do maniqueísmo.
Em Milão, travou conhecimento com o neoplatonismo. Ao mesmo tempo ouvia regularmente os sermões de santo Ambrosio, onde percebia um catolicismo mais sublime do que o imaginado, e lia são Paulo. Um dia, julgando ouvir a voz de uma criança: “Tolle, lege”, abriu ao acaso as Epístolas de são Paulo, que tinha ao lado e passou a sentir que “todas as trevas da dúvida se dissipavam”. Fez-se batizar no sábado santo de 387, com seu filho e com seu filho Alípio. Pouco depois morria a mãe, que muito havia orado por sua conversão. Voltando à África, viveu vários anos em retiro de oração e estudos. Em 390, perdeu o filho. Tanta era a fama que granjeara, de ciência e virtudes, que o povo o escolheu para o sacerdócio. Em 395 foi sagrado bispo no pequeno porto de Hipona. Ali então desenvolveu a intensa atividade teológica e pastoral, dando máxima expressão a seus dotes extraordinários no plano da especulação, da exegese e da penetração psicológica da alma humana. Lutou contra as heresias da época, o maniqueísmo, o donatismo, o arianismo e o pelagianismo. Morreu em Hipona a 28 de agosto de 430.
Principais obras: Confissões, autobiografia escrita entre 397 e 400, uma das obras-primas da literatura universal; A Cidade de Deus, apologia da antiguidade cristã e ensaio de filosofia da História; De Trinitate;Enchiridion, compêndio de doutrina cristã; várias obras polêmicas contra as heresias mencionadas, entre as quais Contra FaustumDe spiritu et litteraDe natura er gratiaDe gratia et libero arbitrioDe correptione et gratiaDe praedestinatione sanctorum; obras exegéticas, como Enarrationes in PsalmosDe genesi ad litteramTratado sobre o Evangelho de São João; obras pastorais, como De catechizandis rudibus; cerca de 400 sermões e muitas cartas.
Fonte: C. Folch Gomes

Antologia dos Santos Padres. 2 Edição. São Paulo, Edições Paulinas, 1979. pp. 334-339, 360-367.

Sermão:
“ NA VIGÍLIA DA PÁSCOA”

(P.L. 38, 1087s)


O bem-aventurado apóstolo Paulo, exortando-nos a que o imitemos, dá entre outros sinais de sua virtude o seguinte: “freqüente nas vigílias” [2Cor 11,27].

Com quanto maior júbilo não devemos também nós vigiar nesta vigília, que é como a mãe de todas as santas vigílias, e na qual o mundo todo vigia?
Não o mundo, do qual está escrito: “Se alguém amar o mundo, nele não está a caridade do Pai, pois tudo o que há no mundo é concupiscência dos olhos e ostentação do século, e isto não procede do pai” [1Jo 2,15].

Sobre tal mundo, isto é, sobre os filhos da iniqüidade, reinam o demônio e seus anjos. E o Apóstolo diz que é contra estes que se dirige a nossa luta: “Não contra a carne e o sangue temos de lutar, mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores do mundo destas trevas” [Ef 6,12].
Ora, maus assim fomos nós também, uma vez; agora, porém, somos luz no Senhor. Na Luz da Vigília resistamos, pois, aos dominadores das trevas.
Não é, portanto, esse o mundo que vigia na solenidade de hoje, iras aquele do qual está escrito: “Deus estava reconciliando consigo o mundo, em Cristo, não lhe imputando os seus pecados” [2Cor 5,19].

E é tão gloriosa a celebridade desta vigília, que compele a vigiarem na carne mesmo os que, no coração, não digo dormirem, mas até jazerem sepultos na impiedade do tártaro. Vigiam também eles esta noite, na qual visivelmente se cumpre o que tanto tempo antes fora prometido: “E a noite se iluminará como o dia” [Sl 138,12]. Realiza-se isto nos corações piedosos, dos quais se disse: “Fostes outrora trevas, mas agora sois luz no Senhor”. Realiza-se isto também nos que zelam por todos, seja vendo-os no Senhor, seja invejando ao Senhor. Vigiam, pois, esta noite, o mundo inimigo e o mundo reconciliado. Este, liberto, para louvar o seu Médico; aquele, condenado, para blasfemar o seu juiz. Vigia um, nas mentes piedosas, ferventes e luminosas; vigia o outro, rangendo os dentes e consumindo-se. Enfim, ao primeiro é a caridade que lhe não permite dormir, ao segundo, a iniqüidade; ao primeiro, o vigor cristão, ao segundo o diabólico. Portanto, pelos nossos próprios inimigos sem o saberem eles, somos advertidos de como devamos estar hoje vigiando por nós, se por causa de nós não dormem também os que nos invejam.
Dentre ainda os que não estão assinalados com o nome de cristãos, muitos são os que não dormem esta noite por causa da dor, ou por vergonha. Dentre os que se aproximam da fé, há os que não dormem por temor. Por motivos vários, pois, convida hoje à vigília a solenidade (da Páscoa), Por isso, como não deve vigiar com alegria aquele que é amigo de Cristo, se até o inimigo o faz, embora contrariado? Como não deve arder o cristão por vigiar, nessa glorificação tão grande de Cristo, se até o pagão se en- vergonha de dormir? Como não deve vigiar em sua solenidade, o que já ingressou nesta grande Casa, se até o que apenas pretende nela ingressar já vigia?
Vigiemos, e oremos; para que tanto exteriormente quanto interiormente celebremos esta Vigília. Deus nos falará durante as leituras; falemo-lhe também nós em nossas preces. Se ouvimos obedientemente as suas palavras, em nós habita Aquele a quem oramos.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Santa Mariana de Jesus, a “Açucena de Quito”

26 de maio

Foi na ilustre Quito, então pertencente ao Vice-Reino do Peru, que nasceu Marianita a 31 de outubro de 1618. Oitava filha do Capitão Dom Jerônimo de Paredes y Flores, originário de Toledo, e Dona Mariana de Granobles de Xamarillo, descendente dos primeiros conquistadores do país, que aliavam a nobreza do sangue à das virtudes.

O modo excelente pelo qual praticou as virtudes durante sua vida deve ser altamente admirado, embora não seja de molde a ser imitado pelo comum dos fiéis.
Aos quatro anos perdeu o pai. A mãe, acabrunhada de dor, resolveu passar algum tempo numa casa de campo. Montada numa mula, levava sua filhinha ao colo. Quando foram transpor celeremente um riacho, a mula tropeçou e a criança caiu. Mas seu anjo da guarda a amparou no ar até que fosse recolhida pela aflita mãe.

Pouco tempo depois a menina ficava duplamente órfã, pois faleceu sua virtuosa mãe. Mas, antes, esta a havia confiado à filha mais velha, casada então com o Capitão Cosme de Casso.  Esse jovem casal já tinha três filhas mais ou menos da idade de Mariana, e deu-lhes a mais esmerada formação. De uma inteligência muito viva e alerta, Marianita aprendia com facilidade tudo quanto lhe ensinavam, mas sobressaiu-se sobretudo na música e canto. Dotada de bonita voz, entretanto só queria utilizá-la para entoar cânticos religiosos e louvores de Deus.

De uma piedade precoce, com suas sobrinhas da mesma idade organizava procissões, a Via-Sacra, e rezavam juntas o Rosário. Entretanto, a piedade de Mariana ia mais além. Desde os seis anos, por penitência, deixou de comer carne, peixe e laticínios. Disciplinava-se (castigava-se) com folhas de urtiga, e uma vez sua irmã mais velha  descobriu que ela usava um cilício de ásperas folhas.
Um dia em que as quatro crianças brincavam em determinado local do quintal, subitamente Mariana fez com que suas jovens sobrinhas saíssem rapidamente. Apenas tinham-no feito, uma parede desmoronou exatamente onde elas se encontravam.

A irmã e o cunhado, vendo que ela tinha uma piedade muito acima de sua idade, procuraram conseguir com que ela fizesse a Primeira Comunhão aos sete anos, quando o costume era então aos 12. Um jesuíta chamado para examiná-la surpreendeu-se com a maturidade da menina e  seu adiantamento na via da virtude. Deu-lhe a Primeira Comunhão e passou a dirigi-la espiritualmente. Foi então que ela acrescentou o nome “de Jesus”, para mostrar que só a Ele pertencia. E, iluminada por uma luz interior, fez o voto de castidade perpétua.
Inflamada pelo amor de Deus, Marianita queria que todos participassem de seu ardor. Nasceu-lhe assim o desejo de evangelizar os índios Mainas, e convenceu suas sobrinhas a segui-la nessa empresa. Tinha já conseguido a chave da casa para saírem à noite, mas, contra seu costume, adormeceu até a manhã seguinte, e o plano gorou.

Pensou então em serem eremitas junto a um oratório abandonado no monte Pichincha, erigido outrora a Nossa Senhora para que Ela preservasse a cidade das erupções desse vulcão. Mas, estando já a caminho, foram detidas por um touro que lhes impediu obstinadamente a passagem.
No próprio lar: reclusão e vida religiosa
Quando Mariana completou 12 anos, seu cunhado e a irmã, vendo o trabalho que a graça operava na menina, quiseram encaminhá-la a um convento onde pudesse desenvolver todos os pendores de sua alma. Ela escolheu o das franciscanas. Por duas vezes, estando o enxoval  pronto e, como era costume na época, os parentes convidados para acompanhá-la, circunstâncias imprevistas impediram a realização do plano. Mariana então comunicou a seu confessor que Deus lhe revelara que a queria vivendo recolhida, mas no mundo. O confessor falou com seus responsáveis, que concordaram com isso.

Mais ainda – e isso mostra um aspecto daquela época de fé –, o casal separou três cômodos da casa para a adolescente levar sua vida de reclusa. Isso na idade de 12 anos! E mobiliaram os aposentos de acordo com a posição da família. Mariana, contudo, fez tirar os móveis e mobiliou os aposentos a seu modo: um leito forrado com pranchas de madeira de forma triangular, uma cruz coberta de espinhos, um caixão de defunto com um esqueleto de madeira e uma caveira. Uma das salas foi transformada em capela, colocando ela no altar as imagens do Menino Jesus e da Virgem Maria. Mariana adotou então uma túnica negra do mesmo tecido da batina dos jesuítas, com uma faixa à cintura e a cabeça coberta com um véu de lã também preta.
Depois de se trancar nos novos aposentos, renovou o voto de castidade e fez os votos particulares de obediência e pobreza. Não saía senão para ir à igreja e – a fim de praticar a humildade e mortificação – servir as refeições para a família. Só que não tocava nos delicados pratos servidos, mas dava sua parte aos pobres, contentando-se com água e um pedaço de pão. Algumas vezes passava dias só com a Sagrada Eucaristia.

Mariana não dormia mais que três horas por noite, sendo que às sextas-feiras dormia no caixão.
Levantava-se às 4 horas da manhã, tomava longa disciplina, e depois fazia meditação e recitava parte do Ofício Divino. Dirigia-se então à igreja para confessar-se e assistir à Missa. Muito devota das almas do Purgatório, dedicava-se diariamente, das 8 às 9 da manhã,  a ganhar indulgências a favor delas. Recitava depois o terço, fazendo em seguida  algum trabalho manual em favor dos pobres. Servia então a refeição da família, e, voltando a seus aposentos, recitava Vésperas e fazia seu exame de consciência. Trabalhava de novo até as 17 horas, quando fazia sua leitura espiritual e depois rezava as Completas. Das 18 horas à 1 da manhã ocupava-se de coisas diversas, em geral fazia outra meditação e leitura da vida dos santos.
Seu amor aos pobres era sem limites. Como não possuía nada pessoal, pediu licença ao cunhado para dar-lhes esmolas com víveres da casa. E o fazia generosamente. Mas como Deus não se deixa vencer em generosidade, à medida que Mariana dava aos pobres, Ele aumentava as provisões da família.

É claro que essa vida tão penitente e o jejum quase contínuo de Mariana deixaram-na muito fraca e macilenta. Isso atraiu o elogio do povinho, que via nela uma santa. Ela suplicou então a Nosso Senhor que lhe mudasse a  aparência, para evitar tais comentários. E realmente ficou com aspecto saudável, rosto corado, o que não levava a supor a severidade de suas penitências. Estas, entretanto, não lhe tiravam a alegria, que ela demonstrava tocando sua guitarra e cantando para consolar e distrair os infelizes.
Além das penitências procuradas, Mariana queria sofrer ainda mais por amor de Deus. Recebeu então como dádiva diversas moléstias dolorosas, o que a obrigava a ser sangrada muitas vezes. Uma empregada pegava esse sangue e jogava num buraco no jardim, onde ele permanecia rubro como se estivesse fresco. Depois da morte da santa, nele brotou um lírio de admirável beleza. Mariana, por causa da alta febre, era freqüentemente devorada pela sede; mas, para imitar o Divino Mestre, que teve sede na Cruz, passava às vezes até 15 dias sem beber.

Perseguição diabólica, profecias, milagres e ressurreições
A esses sofrimentos acrescentem-se as perseguições do demônio, que queria levá-la algumas vezes ao desânimo, outras ao desespero.
Mariana de Jesus fez diversas profecias, que se realizaram tais como ela havia predito. Por exemplo, que a casa de seu cunhado seria transformada em convento, e que o lugar de seu alojamento seria o coro das religiosas. Com efeito, mais tarde as carmelitas descalças ali se estabeleceram.
A Serva de Deus recebeu o dom dos milagres, entre os quais referem-se duas ressurreições. Sua sobrinha Joana, viajando, confiou-lhe sua filhinha. Um dia em que a criança brincava perto de umas mulas, uma destas lhe deu um coice na cabeça, fraturando-a mortalmente. Mariana fez com que a levassem à sua cela e rezou sobre ela, restituindo-lhe a vida.

Um outro caso aconteceu com a mulher de um índio, empregado da família. Supondo ele injustamente que sua mulher lhe era infiel, arrastou-a para a floresta, surrou-a selvagemente, estrangulou-a e jogou o corpo num precipício. Tudo isto Mariana viu milagrosamente. Chamou um comerciante amigo da família e pediu-lhe em segredo que fosse  buscar o corpo e o trouxesse sigilosamente para sua cela. Tendo-o junto a si, começou a esfregar-lhe pétalas de rosa. Imediatamente a índia voltou à vida. Depois revelou que, no meio de seu suplício, viu Mariana dizendo-lhe que tivesse coragem.

Oferecendo-se como vítima, salvou Quito do terremoto e da peste
Em 1645, uma terrível epidemia abateu-se sobre Quito, fazendo inúmeras vítimas, ao mesmo tempo que ocorriam terríveis tremores de terra. No dia 25 de março, assistindo à Missa, Mariana ouviu seu confessor referir-se, durante o sermão, à necessidade de se aplacar a cólera de Deus com sacrifícios e penitências. Movida pelo Divino Espírito Santo, fez ela oferecimento de sua vida pela população da cidade.
No dia seguinte, foi atacada por diversas doenças, ao mesmo tempo em que cessavam os tremores de terra e a peste. Mas a população ficou consternada ao tomar conhecimento do estado de saúde desesperador em que se encontrava aquela que veneravam como santa. Todos queriam vê-la, tocá-la, informar-se de seu estado. Mas só o Bispo foi admitido.

Mariana recebeu os últimos Sacramentos com verdadeira alegria, e quis receber a Comunhão de joelhos, apesar da fraqueza em que se encontrava. Para morrer sem nada de seu, pediu para ser transportada ao quarto de sua sobrinha, a fim de morrer em cama emprestada.
No dia 26 de maio de 1645, aos 26 anos, aquela que era chamada em vida a Açucena de Quito entregou sua alma a Deus. Logo uma multidão acorreu para venerar seu sagrado corpo e obter alguma relíquia.
Mariana de Jesus Paredes y Flores foi beatificada por Pio IX em 1850 e canonizada, 100 anos depois, por Pio XII. A República do Equador proclamou-a  Heroína Nacional.
 Fonte: http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=28&mes=maio2007
Reflexão: Deixo-a com as palavras da própria Santa:


Mira que te mira Dios
Mira que te esta mirando
Mira que deves morir
Mira que no sabes quando
Note que Deus te olha
Note que Ele está te olhando
Note que deves morrer
Note que não sabes quando

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Santa Beatriz da Silva


1 de Setembro


"Cantai ao Senhor, vós que sois seus santos, e celebrai a memória da sua santidade. Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã." ( Sl 30 4-5 )
"A Estrela Luminosa"

Nasceu a Santa Beatriz, em 1424 na cidade de Campo Maior em Portugal. Era de estirpe real. Fora prendada de extraordinária beleza física e excelentes qualidades morais.
Educada e dirigida pelos Franciscanos, com ela crescera uma devoção terníssima à Santíssima Virgem e desejava com todo ardor de sua alma que a Santa Igreja definisse Dógma de Fé, o privilégio de sua Conceição Imaculada.
Quando sua prima Rei D. Isabel, infanta de Portugal, havia sido desposada pelo D. João II de Castela, Beatriz acompanhou a jovem Rainha para a Corte da Espanha, como primeira dama de honra. Sendo Beatriz, bela, atraente e nobre, tornou-se logo a favorita da Côrte, portanto admirada e cortejada por todos. Mas o coração de Beatriz, nunca se prendera a nenhum mortal e pairava acima de todo amor humano. A princípio a Rainha sentia-se contente com os elogios dispensados à sua nobre dama mas...depois o ciúme e a inveja apoderou-se de seu coração e já não via em Beatriz sua amiga, mas uma rival; e decidiu matá-la por asfixia.
Certa noite a Rainha cruel, pôs em prática o seu plano satânico. Conduziu Beatriz aos subterrâneos do palácio e sepultou-a viva em uma grande cofre ali existente. Beatriz estava condenada a uma morte pavorosa pela asfixia. Extremamente angustiada, encomendou sua alma a Deus e pediu perdão por sua adversária. Sentia entretanto, morrer sem receber o Santo Viático e sem nada ter feito em honra da Virgem Imaculada. Renovou seu voto de castidade e aceitou resignadamente a morte. Mas de repente, aquela escura prisão se ilumina e ela vê diante de si, a Virgem Imaculada com o Menino Jesus nos braços.


Trazia hábito e escapulário brancos como a neve e nos ombros um manto de um azul tão claro como o céu sem nuvens. Sua cabeça estava aureolada com uma constelação de doze estrelas. Menino Jesus, tinha nas mãos uma lança com a qual esmagava uma serpente que jazia aos pés da Virgem bendita. Em dado momento a santíssima Virgem exclamou: minha filha, vês os hábitos que trago? pois bem. No fim de três dias serás livre desta prisão e fundarás uma Ordem religiosa em louvor a minha Conceição Imaculada.
Decorrido três dias que Beatriz desaparecera da Corte, seu tio D. João de Menezes, foi ter com a Rainha para saber o paradeiro de sua sobrinha. A Rainha encolerizada com a ousadia do nobre cortesão, o conduziu ao lugar do assassinato julgando encontrar ali um cadáver em decomposição. Receosa, abre o cofre e eis que Beatriz aparece bela, sorridente e aureolada de esplendores celestes. A Rainha solta um grito de terror e Beatriz lança-se a seus pés e pede-lhe permissão para sair da Côrte e refugiar-se em um Mosteiro. A Rainha anuindo ao pedido de Beatriz a deixou partir.


Beatriz deixando a Côrte de Castela dirigiu-se ao Mosteiro de S. Domingos, o Rela de Toledo, a fim de preparar-se no silêncio e na oração, para sua grande missão de Fundadora. Em caminho, sua alma turbou-se receando que a rainha mandasse tirar-lhe a vida e no auge de sua dor aparecem-lhe seus gloriosos patronos S. Francisco e Santo Antônio, que tranquilizaram seu espírito, felicitam-na pela nobilíssima missão que recebera da Rainha do Céu e desaparecem deixando sua alma inundada de consolações celestiais.


Beatriz, chegando ao Mosteiro de S. Domingos, velou para sempre seu rosto com um espesso véu, a fim de que nenhum mortal pudesse jamais contemplar sua deslumbrante formosura.
Decorridos mais de 30 anos, Beatriz tem uma segunda aparição da Ssma. Virgem, revestida com o hábito Concepcionista e ordena-lhe que dê início à fundação de sua Ordem bendita.
Beatriz, recorre à sua parenta, a Rainha D. Isabel, a Católica, filha de sua adversária. Esta Rainha virtuosíssima, tornou-se Co-fundadora e benemérita da Ordem nascente. Doou para o berço da Ordem os Palácios de Galiana e a Igreja de Santa Fé; ela mesma solicitou e obteve do Papa Inocêncio VIII a Bula de Aprovação.


No ano de 1484 Beatriz deixa o Mosteiro de São Domingos onde levara uma vida mais celestial do que terrena. Durante aquele prolongado retiro de mais de 30 anos, passara a maior parte dos dias e das noites em colóquios com o Esposo Divino na solidão do sacrário. Sua alma estava acrisolada de eminentíssimas virtudes, apta e idônea, para a grande missão de Mestra e Mãe.
Acompanhada de 12 donzelas entrou nos palácios de Galiana doados pela Rainha, que em breve tempo foi adaptado à forma de Mosteiro. Ali começaram a observar a vida monástica em todo seu rigor. Vestiam hábito e escapulário brancos, manto azul e cingiam-se com o cordão seráfico.




A Santa Fundadora, suspirava com ansiedade pela aprovação de sua Ordem querida. Certo dia, a Madre Beatriz é chamada à roda da portaria; indo atender, depara-se com o Arcanjo S. Rafael que lhe anuncia a grata notícia da expedição da Bula de Aprovação de sua Ordem. E acrescenta que já se achava a caminho vindo por mar. A Santa Fundadora exultava de gozo celestial aguardando o auspicioso momento de receber aquele precioso documento. Passados alguns dias, eis que recebe uma triste notícia, o navio que trazia a Bula de Aprovação de sua Ordem tinha naufragado no fundo do oceano. Grande foi a dor que oprimiu o coração da Santa Fundadora! Desfeita em lágrimas, prostra-se diante do sacrário e durante 3 dias e 3 noites não o fez senão orar e chorar. Depois levanta-se calma e serena e vai abrir um cofre que ela mesma tem a chave. Encontra ali um certo documento examina-o e com surpresa reconhece ser a Bula de Aprovação de sua Ordem querida, trazendo os sinais e cheiro da água do mar.



 O Arcanjo S. Rafael que trouxera a grata notícia da expedição da Bula, quis também salvá-la do extermínio das águas. ( Por estes fatos miraculosos vemos quanto a fundação desta Ordem bendita agradava à Virgem Imaculada e aos habitantes do céu. Vemos após, o Arcanjo S. Rafael empenhado em sua aprovação ).
A Santa Fundadora podia então entoar o seu cântico de despedida "Nunc dimittis". Sua missão na terra estava cumprida! A excelsa Ordem da Imaculada Conceição estava fundada e aprovada pela Santa Igreja! Suas filhas espirituais, as Concepcionistas, continuariam sua missão no decorrer dos séculos cantando o hino de exultação seráfica à Virgem Imaculada: "Vós sois toda formosa ó Maria! E a mácula original não existiu em vós!" E todas as Concepcionistas animadas pelo exemplo de Beatriz, no dia de sua procissão, juravam solenemente sobre os santos Evangelhos, defenderam com a própria vida este privilégio sinular da Ssma.Virgem.


A grande glória e mérito da Santa Beatriz, é ter dado ao mundo cristão, 400 anos antes da declaração do Dógma, um testemunho vivo de fé na verdade divinamente revelada, da Conceição Imaculada de Maria.
Estava a Santa Fundadora, aos 67 anos de idade, quando pela terceira vez recebeu a visita da Virgem Imaculada, que depois de lhe haver falado maternalmente acrescentou: minha filha, prepara-te que de hoje a 10 dias virás comigo para o paraíso. Apesar de Beatriz ser alma mais celestial do que terrena estremece ao pensar em sua Ordem querida cujas perseguições e provações lhe haviam sido reveladas pelo próprio deus. Pensa em suas filhas espirituais, que ainda principiantes na virtude, poderiam vacilar em face das grandes tribulações que lhes sobreviriam após a sua morte. E numa prece ardente e fervorosa ela implora a proteção divina para sua obra apenas começada. Mas o bom Jesus, que se compraz nas almas puras e humildes não tardou em vir em seu auxílio. Inspirou-lhe a colocar a Ordem nascente sob a proteção dos Franciscanos por serem defensores intrépidos do mistério da Conceição Imaculada de sua gloriosa mãe. E assim quando a Ordem bendita fosse perseguida, abatida e quase extinta, pelas forças inimigas, eles seriam também seus defensores e seus restauradores.


Após isso Beatriz caiu gravemente enferma e calma e serena comunica ao seu diretor espiritual a revelação que tivera e como virgem prudente com a lâmpada acesa, aguardava a chegada do Esposo.
Chegara afinal o dia predito pela Santíssima Virgem para o trespasse de Beatriz. Era a tarde de 09 de agosto de 1491. Estendida em seu leito de agonia tinha ainda a face velada. Mas quem a descobrirá? Um temor reverencial intimida a todos! Uma de suas filhas com a mão trêmula de emoção descobre o rosto seráfico da Santa Mãe. Ó maravilha! Exclamam todos tomados de admiração! Um esplendor celeste envolvia-lhe a face angelical que conservava toda pujança de sua decantada beleza e uma estrela luminosa veio pousar acima de sua fronte dardejando luz tão maravilhosa que enchia todo ambiente. Testemunha deste milagre foram 6 sacerdotes Franciscanos e monjas Cistercienses que tinham vindo assistir os seus últimos momentos.



 Tendo se espalhado a notícia do milagre, todo povo que estava na igreja e nas dependências externas, invadiu a clausura a fim de contemplar a Santa dos esplendores ainda viva, como glorificada e com ares do paraíso. E todos puderam admirá-la à vontade, pois a estrela só desapareceu quando a alma de Beatriz desprendeu-se do invólucro mortal e evolou-se à Pátria Celestial.


Reflexão:
Vê-se, em sua vida, como Beatriz renunciou a tudo o que tinha para seguir a Deus. De rosto belíssimo, sofria muito a Santa com as brigas provocadas pelos jovens da côrte por causa dela. Tanto que chegou a expressar que trocaria seu rosto pelo da mulher mais feia do mundo. Observa-se em sua história, como renunciava a seus atributos físicos e à um casamento bem arranjado, pois Deus era o dono de seu coração. Vê-se com que coragem deixou suas riquezas para fazer a vontade de sua Mãe Celeste, e com que paciência suportou esperar o chamado de Deus, durante 30 anos, num mosteiro beneditio onde nem sequer era religiosa. Por fim após fundar a sonhada Ordem, não pôde dela desfrutar, pois não era desejo de Deus. Assim então, ao morrer, não estava con jóias ou uma coroa em sua cabeça, mas sim com uma estrela duorada e de seu rosto saíam os raios do Sol. A glória de Deus é muito maior do que qualquer riqueza humana. Podemos então, a exemplo de Santa Beatriz, renunciar a tudo para ganharmos O Tudo, que é o Senhor.

domingo, 8 de agosto de 2010

Santa Rafqa

23 de Março

"Não pensem que eu vim trazer a paz,e sim a espada. De fato, eu vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de sua sogra. E os inimigos do homem serão seus próprios familiares. Que ama seu pai e sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho, ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. Quem não toma sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem procura conservar a própria vida, vai perdê-la.E quem perde sua vida por causa de mim, vai encontrá-la."(Mt 10,34-39) 

Órfã e consagrada a Deus, de clausura e arrastando seu martírio durante dezenas de anos, assim foi a vida da Irmã Rafqa cuja existência, desde a infância até a sua morte, foi sempre uma dura prova. Ora, toda vida penosa poderia ser; ou infeliz e desprovida de toda consolação - humana ou divina -, ou então uma vida feliz e fonte de todo reconforto. Nossa Santa é uma daqueles e daquelas que seguiram o Cristo, e que tinham participação da Santa Cruz. Em vez de ter sido infeliz e sem consolação, Irmã Rafqa pôde transformar seus contínuos sofrimentos em uma alegria contínua. Por isso, publicamos esta biografia como um presente àqueles que estão procurando, no sofrimento, a felicidade "neste vale das lágrimas".

Origem


Libanesa, membro da Ordem Libanesa Maronita, ramo feminino, a Irmã Rafqa nasceu em 1832 em Himlaya, aldeia maronita da montanha libanesa, a cerca de 700 metros de altitude, no centro do país. Seu pai se chamava Mrad Saber El-Choboq El-Rayés, sua mãe Rafqa Gemayél. Temos poucas informações sobre sua família, pois sua aldeia foi saqueada durante os acontecimentos sangrentos que se desenrolaram no século passado, e de maneira particular em 1860 quando se realizou o genocídio dos Cristãos, e sobretudo dos Maronitas. Sabemos, porém, que ela nasceu em 1832, e que seu nome de batismo era Butrossiéh, Pedrina em português. Sua mãe faleceu quando tinha apenas sete anos. Desde a infância, esteve privada da doçura da presença materna; foi a primeira cicatriz em seu tenro coração. Viúvo, seu pai não tardou se casar de novo. A presença de uma madrasta muitas vezes é ressentida amargamente por crianças de pouca idade; foi por isso que os anos de sua segunda infância foram duros, porque sua madrasta não lhe testemunhava o afeto de que precisava. Mas Butrossiéh se voltava para sua Mãe celestial, que se tornara também sua mãe terrestre. Esta devoção à Santíssima Virgem, aprendera de sua mãe antes que morresse. Esta, tal como todas as mães de antigamente, deu à filha a educação ao mesmo tempo humana e cristã; ensinou-se as orações e atos de piedade, em particular a oração da manhã e da noite, antes de se deitar. "Tal mãe, tal filha"! Butrossiéh só podia ser uma filhinha piedosa e bem educada..

Na adolescência, Butrossiéh sentia que os dias no Líbano ficavam muito pesados; os acontecimentos se precipitaram; a guerra civil começou em 1840, e depois em 1843 e 1845. As querelas na região e os combates no país provocaram dificuldades econômicas para o povo libanês. Para ajudar o pai, Butrossiéh não hesitou em se tornar empregada doméstica na casa da família de Ass'ad El-Badaui, que, com sua mulher Helena, era homem direito, honesto e profundamente cristão. Originário de B'abda, no Líbano, esta família instalou-se em Damasco. Butrossiéh foi com eles,e lá ficou cerca três anos. Segundo a opinião da família El-Badaui, era "um modelo de piedade, fidelidade e pureza".

Vocaçã Religiosa

Aos quatorze anos, seu pai chamou-a, na intenção de fazê-la casar, projeto que, aliás, era completamente estranho ao temperamento de nossa Santa. Mais de um pretendente se apresentou à jovem Butrossiéh, cuja beleza exterior era igualada pela beleza da alma; mas escutava, no fundo do coração, a voz do Senhor que chamava-a para segui-Lo. Um dia, um certo jovem da sua aldeia, cruzou com ela e lhe perguntou: "Onde podemos nos encontrar?" Ela lhe respondeu: "Pertinho da igreja", expressão libanesa que corresponde à expressão brasileira "chácara do padre", pois o cemitério estava sempre perto da igreja paroquial, e que o encontro ia se realizar após a morte. Por fim, surgiu um conflito ao seu redor, no seio de sua própria família: sua madrasta queria casá-la com seu irmão, e a tia materna, da sua parte, queria que se casasse com seu filho. Entre as duas mulheres surgiu aversão e inimizade. Um dia, ao pegar água na fonte da aldeia, ouviu a madrasta e a tia trocando insultos, por causa dela. Ficou impressionada e desgostosa com essas brigas, e pediu a Deus que a libertasse desta situação. Logo veio-lhe a idéia de ir para a vida religiosa. Assim que chegou aos vinte e um anos, e sem tardar, foi ao convento de Nossa Senhora do Bom Parto, em Bikfaya, que pertencia à Congregação das irmãs Mariamitas, recém-fundada, em 1853,pelo padre diocesano José Gemayél e padres jesuítas, para ajudá-los em suas atividades apostólicas, e de maneira particular, na educação das jovens libanesas.

Assim Butrossiéh deixou tudo e foi para seguir o Cristo. Seu pai, revoltado, foi, acompanhado pela madrasta, ao convento das Mariamitas para levá-la de novo à casa; mas seu gesto foi em vão. Butrossiéh recusou mesmo falar com eles, apesar da insistência da madre superiora que tentava convencê-la para encontrar seu pai e sua mãe. Então Butrossiéh lhe respondeu: "Prefiro que minha mãe me leve para ela primeiro, que deixar este convento". Surpreendida, a superiora lhe pediu esclarecimento. Butrossiéh lhe disse que aquela que acompanhava seu pai é uma madrasta, pois a sua mãe era já falecida. Então, seu pai voltou para casa e nunca a viu depois, e sua entrada no convento foi um "até à vista" para o mundo, e um "até à vista" para todos seus seres humanos queridos, incluindo seu pai! PROFISSÃO RELIGIOSA

Depois de um ano de postulante, Butrossiéh foi admitida ao noviciado em 9 de fevereiro de 1855, na festa de São Marun. Passou um ano e meio em Bikfaya, depois foi transferida para o convento de Ghazir onde funcionava o Seminário Oriental ou Seminário do Patriarcado Maronita. Este foi fundado em 2 de fevereiro de 1846 e confiado aos padres jesuítas. Ficou ali como noviça e depois como professa, por sete anos, preparando a comida para os seminaristas; entre eles, na época, Elias Houwaiék, que se tornou patriarca. Depois de terminado seu trabalho, tinha aprendido árabe, caligrafia e matemática. Ela fez a profissão religiosa em Ghazir em 1856.

Em 1860, foi transferida para Deir-El-Qamar para proporcionar a educação e formação das crianças, com outras co-irmãs e padres jesuítas. Ali, viveu o drama do genocídio dos Maronitas, ocorrido naquele mesmo ano "em que os perseguidores arrancavam os meninos dos braços de suas mães, e martirizavam os maridos nos joelhos de suas mulheres, com martelos e instrumentos de tortura". Nossa Beata pôde salvar um menino pequeno, que era perseguido para ser estrangulado; envolveu-o com seu hábito, e salvou-o da crueldade e barbárie de seus agressores. No momento destes massacres, as religiosas mariamitas que se encontravam naquela região, foram, por fim, escondidas num estábulo. Mais tarde, a irmã Rafqa sempre ficava com lágrimas nos olhos todas as vezes que tocava no assunto, tanto foi afetada pelos massacres. Depois de passar dois anos em Deir-E1-Qamar, foi enviada à cidade de Jbeil (Biblos) para ensinar as meninas, com as outras mariamitas. Ficou ali apenas por um ano. A seguir, suas superioras enviaram-na à aldeia de Ma'ad para dirigir a escola das meninas. Passou ali sete anos; ficou hospedada na casa de um notável da aldeia, Antun Issa, homem extremamente rico, cristão praticante e grande benemérito; era casado, mas não tinha descendentes. Vivia com sua esposa no temor de Deus. Nossa Beata vivia na casa deles como se estivesse entre suas co-irmãs.

Em 1871, a Congregação das Mariamitas (do Sagrado Coração de Maria) de Bikfaya e a das Filhas do Sagrado Coração de Jesus de Zahlê foram dissolvidas, porque recusavam a fusão em uma só Congregação, como desejavam os padres jesuítas, de quem dependiam. Muitas religiosas voltaram, então, para o mundo; algumas foram recebidas em outras instituições; outras voltaram para suas casas, na esperança de se reencontrarem um dia. Efetivamente, e depois de novas negociações, os dignitários da Companhia de Jesus decidiram não considerar a resolução tomada em relação a elas, como definitiva. A casa de noviciado foi reaberta em 13 de novembro de 1884,e as Congregações foram definitivamente fundidas em uma mesma instituição sob o nome de "Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria".

Monja Enclausurada

Uma vez dissolvida sua Congregação, nossa Beata encontrou-se só, sem quem a apoiasse; estava na mais completa desorientação. Para enfrentar uma situação assim confusa, dirigiu-se à igreja da aldeia de Ma'ad, onde vivia, e pediu a ajuda do Senhor para saber onde se encontrava Sua Santa Vontade. Por inspiração divina, dirigiu-se ao mosteiro de São Simão, na aldeia de Aitu, para se tornar monja enclausurada, depois de ser freira professora. Tinha então trinta e nove anos. Foi recebida para o noviciado no dia 12 de julho de 1871; depois, fez os votos solenes em 25 de agosto de 1873. Achava que devia ser esposa de Cristo por toda a eternidade. Sua vida nunca deixou de ser exemplar.

Participação da paixão de Cristo

A Irmã Rafqa se comportava bem. Nunca se queixou de nenhuma doença ou mal-estar. Tornando-se contemplativa, desejava ardentemente participar dos sofrimentos de Cristo. Seu desejo foi realizado no primeiro domingo de outubro de 1885, festa do Santo Rosário. Nesse dia, dirigiu-se a Deus pela seguinte oração: "Por que, meu Deus, afastai-Vos de mim, e por que me abandonais'? Não me visitais pela doença! Teríeis me abandonado?" Naquela noite mesmo, no momento de dormir, experimentou uma dor violenta na cabeça; depois, esta dor se propagou por sobre seus olhos. Assim começou a Paixão da irmã Rafqa. A superiora enviou-a a Tripoli, a Ser'el e Batrun; mas nenhum médico pôde reduzir seus sofrimentos e dores intensas. A seguir, enviou-a a Beirute; no caminho, teve de parar em Jbeil, para pernoitar na casa de São João-Marcos, pertencente à Ordem Libanesa Maronita. O superior, padre Estevão, chamou um médico de origem norte-americana, que se encontrava na cidade. Depois de examiná-la, julgou necessário uma operação no olho direito, e insistiu, dizendo que o olho ficaria curado se a operação fosse feita, e garantiu que o olho não seria afetado. Fez com que a irmã Rafqa se sentasse numa cadeira, e sem anestesiá-la, enfiou em seu olho um bisturi longo e afilado, e puxou-o em direção a seu peito. O olho foi inteiramente arrancado, e caiu no chão, na frente dela, palpitando um pouco. A irmã Rafqa )he disse, calmamente: "Em comunhão com a Paixão de Cristo! Deus guarde suas mãos, doutor! Deus lhe pague!" De imediato, o sangue correu abundantemente. Quanto à dor que sentiu naquele momento, só Deus sabe o quanto foi atroz. Malgrado isto, não gritou, nem se perturbou, e só disse palavras suaves. Na manhã seguinte, continuou seu caminho para Beirute, para curar seu olho arrancado. Ficou na casa das Filhas da Caridade; os médicos pararam o sangue que escorria da cavidade, e acalmaram a dor, que se concentrou sobre o outro olho. Antes de deixar a casa de Jbeil, perguntou ao superior, padre Estevão, se tinha pago o médico; e este respondeu: "Quereis que eu lhe dê a paga, por ter-vos arrancado o olho! Ele se foi, e não apareceu mais, depois de tudo o que eu lhe disse!" No fim, a irmã Rafqa voltou ao mosteiro de São Simão, suportando atrozes sofrimentos, sem nunca se queixar. Pouco tempo depois, ficou totalmente cega. No ano de 1897, a Irmã Rafqa foi transferida com cinco outras monjas, ao convento de São José de Jrapta, recém-fundado. Ali, experimentou uma dor muito forte nas pernas, como se pontas de lança fossem enterradas nelas, e sentia uma dor nos artelhos, como se fossem arrancados. Depois, o mal invadiu todo seu corpo; por estes sofrimentos, começou a emagrecer e enfraquecer gradualmente; mas sua fisionomia continuava viva e bem disposta. No fim, viveu totalmente imobilizada, e todos os seus membros estavam deslocados, desarticulados, exceto as mãos. Suportava com paciência suas dores agudas, agradecendo a Deus por seus males, abandonando-se sem reservas à Sua Santa Vontade! O sorriso nunca desapareceu de seus lábios, e a paz e a serenidade sempre permaneceram em seu coração. Por isso todas as suas co-irmãs acorriam para ajudá-la, numa ardente competição, até o dia em que entregou sua alma a Deus, no dia 23 de março de 1914.

Morte

Toda vida tem um trem. Os cristãos crêem na ressurreição do mesmo modo que na eternidade. Todavia, o passo que se têm de atravessar da vida terrena para a vida eterna não é muito fácil. Este "salto no vazio", para muitos, é realmente aterrorizante, pois, todos os seres humanos morrem uma vez na vida; cada um de nós não faz a experiência da morte que só uma vez! Por isso, ninguém poderia explicar o fato "morrer", nem descrever "este passo" único na vida ou este "salto no vazio". Mas o crente sabe muito bem que este passo não é "um salto no vazio", mas a passagem duma vida provisória a uma vida eterna, e esta passagem, em vez de ser horrorosa, se realiza na calma e na serenidade quando o ser humano cumpriu seus deveres para com Deus e para com o próximo, como para consigo mesmo, e quando aqui evitava o mal e procurava a fazer o bem, e quando trazia sua cruz, os sofrimentos, com Cristo e por Cristo! Então a sua morte se torna mais calma e muito doce. Assim foi a morte da Irmã Rafqa. Ela morreu como morrem os justos. Quando a superiora lhe perguntou: "Tem medo da morte?" Ela respondeu com sorriso; "Não, não tenho medo da morte que estou esperando desde muito tempo, pois, falecida, Deus vai dar-me a verdadeira vida". Depois de receber o viático, a superiora lhe perguntou: "Que deseja ainda minha querida'?" ela respondeu: "Que as irmãs leiam para mim o livro "As Glorias de Maria" e o livro da "Preparação à Morte"; e ela seguia atentamente cada frase.

Ao pôr de sol, antes de morrer, ela pediu desculpa às irmãs que começaram a chorar; depois ela pediu ao Padre capelão a última absolvição, e começou a repetir: "Jesus, Maria, José, lhes dou meu coração e meu espírito, tornem posse da minha alma". Quatro minutos depois, sua alma se elevou para perto do Senhor, para ser remunerada por seus sofrimentos destes muitos anos. Naquele dia, aqueles que a observaram, diziam: "parecia descansando num sono tranqiiilo e calmo, e que uma luz brilhava em seu rosto, e um sorriso estava gravado sobre seus lábios".

Ela faleceu no dia 23 de março de 1914 no mosteiro de São José de Jrapta. Seu corpo foi exposto durante dois dias na capela do mosteiro sem que um cheiro pútrido se sentisse do seu cadáver; a gente dizia: "Olha, ela esta mais dormindo que falecida". O caixão era simples, e mais simples foi seu enterro no mesmo mosteiro. Ao ver seu túmulo extremamente simples, se podia lembrar desta verdade: "À pequena gente, grandes monumentos; às grandes personalidades, uma simples pedra". Sem dúvida, a Irmã Rafqa foi uma grande personalidade na Igreja de Cristo, pois ela marcou seu século e seu país

Virtudes

Piedosa e simples foi Butrossiéh na casa paterna. No convento das mariamitas e depois nos mosteiros da Ordem Libanesa Maronita, Irmã Rafqa adquiriu todas as virtudes cristãs, humanas e monásticas, e as observou com heroísmo.

A sua vida era dividida entre as preces e o trabalho: "Ora et Labora". Mesmo trabalhando, viajando, sofrendo, ela jamais cessou de rezar. Recitava cada dia o Terço pois ela tinha uma grande e profunda devoção a Nossa Senhora que escolheu, desde à infância e depois da morte de sua mãe, como a única mãe neste mundo. Ela tinha grande devoção ao Sagrado Coração de Jesus, e uma devoção particular a São José ao qual fazia muitas novenas em prol daqueles que lhe pediram de rezar por eles. Quanto à sua devoção à Paixão de Nosso Senhor, ela foi tão grande que não é fácil de descrever. Antes de tornar-se paralítica, fazia cada Sexta-feira a Via Sacra. Quando era irmã mariamita, era doce, delicada, carinhosa e muito dedicada para com seus alunos. Como religiosa, era obediente, e repetia sempre: "Deus está me falando por meio das minhas superioras". Sua castidade era perfeita, e sua modéstia e pudor atraíram todos. Tinha uma bela voz, e foi uma belíssirna moça. Religiosa e monja, conservou sua beleza e sua frescura, e sua beleza corporal foi a expressão da sua beleza interior, como diz a Bíblia: "A beleza da filha do rei é interior". Era humilde, jamais se queixou nem reclamou alguma coisa ou favor. Sua paciência ultrapassou todos os limites. Ela dizia sempre: "Peço a Deus a graça de ser paciente para poder participar da Paixão de Jesus". Paralítica e cega durante dezessete anos, nunca cessou de ser agradável, e sua companhia era atraente, pois sua submissão total à Divina Providência foi quase legendária. Repetia sempre: "Que a Vontade de Deus seja feita". Ela mesmo dizia: "Se Deus desloca meus ossos e os esmaga, que Sua Vontade seja feita". Em suma, Irmã Rafqa foi uma religiosa piedosa e uma monja bem virtuosa.

Graças e Milagres

O homem de Deus não é capaz de fazer a não ser aquilo que Deus quer, pois está intimamente unido a Ele de tal modo que seu pensamento se inspira de Deus e seus atas tendem a ser conformes ao modo de agir de Deus. Caso aconteça ao homem de Deus fazer um milagre ou qualquer ato prodigioso, não é ele que o faz; é o próprio Deus que os opera. Deus opera milagres ou outros prodígios pela intercessão de seus fiéis discípulos e servidores. É um modo pelo qual Deus nos mostra a heroicidade das virtudes desses seus fiéis servidores e se compraz em ver os outros mortais imitarem seus exemplos. O milagre acontece não apenas para o bem do indivíduo beneficiado, mas sobretudo para o bem comum da humanidade. Todo milagre ou fato prodigioso é um sinal divino que nos revela, uma vez mais, a existência de Deus e que o Servo de Deus foi fiel à sua vocação, qualquer que seja esta vocação, servindo de modelo a ser seguido pelos mortais.
Fonte: http://www.igrejamaronita.org.br/

Reflexão:
Pode-se ver, na história de Rafqa, que ela jamais se recusou a abandonar tudo, até mesmo os mais queridos,para seguir a Deus, fazendo conforme Ele pediu. Pode se ver nela também, uma terna devoção a Nossa Senhora, tanto que a fez sua Mãe terrestre. Jamais negou o sofrimento. Ao contrário, abraçou-o amorosamente e o aguentou por amor a seu Senhor. Pelo exemplo de Santa Rafqa, pode-se ver como ainda temos de melhorar em nossas ações,como melhor devemos seguir a Deus, como devemos deixar as coisas mundanas  abraçar a Cruz! Devemos, então, seguir o exemplo dessa celeste amiga, para louvar e agradecer sempre a Deus, mesmo no sofrimento e nas horas mais difíceis, e que possamos pedir sua intercessão para perseverarmos na fé e na virtude até a morte.
Santa Rafqa, rogai por nós!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Imaculada Conceição

 "Ó santa e imaculada virginidade,não sei com que louvores vos possa exaltar; pois quem os céus não podem conter, vós o levastes em vosso seio."

    A Imaculada Conceição da Virgem Maria,segundo o dogma católico nos diz que desde o primeiro momento de sua conceição, esta bendita Virgem foi preservada de toda a mancha do Pecado Original,transmitida aos filhos de Adão depois de ter desobedecido a Deus. Pelo maravilhoso privilégio de ser a escolhida para dar a luz ao Senhor, foi ela preservada de todo o mal e pecado, para que o demônio não tivesse poder sobre ela nem por um segundo.

 É preciso, esclarecer o Pecado Original. Quando Eva aceitou a palavra da serpente e comeu do fruto proibido, e além disso o deu a Adão, estava condenando desgraçadamente todos os seus filhos...pertencemos então, a uma raça pecadora, não pela nossa alma,pois Deus a criou perfeita e pura, mas está unida a um corpo naturalmente pecador e impuro...é por isso necessário o batismo, para renascermos em Deus, e com Ele nos reconciliar.

 É aí que entra o mistério da Imaculada Conceição! Por querer Deus que Ela fosse sua mãe criou-a semelhante a nós , mas não igual. Todos os seres humanos estão submissos a essa  regra exceto Ela, pois no momento da união da alma com o corpo, Deus a preservou desta impureza.
 Foi sempre preservada do pecado pois o nascimento de Jesus estava há muito antecipado, e não podia Ele vir ao mundo se não fosse por uma Mãe tão pura e Imaculada...Donde nasceria Deus que é a própria Santidade e Pureza se não fosse exatamente no ventre Santo e Puro de uma Virgem? Ela é pois,a obra-prima do Senhor,bendita entre todas as criaturas! Diz também Santo Agostinho: " Ele criou a mãe que escolheu, Ele escolheu a mãe que criou ".

   A prova disso está na própria Bíblia. Depois do pecado de Adão e Eva Deus disse ao demônio ( sob a forma de serpente ) : "Porei inimizade entre ti e a mulher,entre sua raça (serpente) e a tua ; e ela te esmagará a cabeça"(Gen 3,15). Não precisa de muita inteligência para perceber que a mulher é a própria Maria, cheia de graça diante de Deus e que a própria Maria (e sua raça) procurariam esmagar a cabeça do demônio.

 O próprio S. Gabriel a chama cheia de graça :Ave, cheia de graça,Senhor é contigo".É sim conhecido de que os homens glorificam os anjos, mas um anjo glorificar uma mulher? Não encontrará exemplo deste em lugar nenhum! Ao declarar cheia de graça revela que a própria é obviamente cheia da graça divina e pela sua saudação está acima dele. O Senhor é contigo revela que Deus esteve, está, e estará sempre com ela,e que conceberia o Filho de Deus em seu ventre. Lembre-se que o Anjo disse : O Senhor é convosco, então esteve com Ela desde a Eternidade e pelos séculos todos.

 Se Ela, então recebeu esta sublime saudação angélica, não será Ela purificada acima dos anjos? Cheia de graça, significa que é Ela a Pura e Imaculada, a única criatura que aos olhos de Deus, pela graça de Deus e pelo privilégio de ser mãe Dele. Devemos pois honrar e venerar este mistério, pois é mais um dos milagres de Deus em Maria...Lembrando que durante sua vida Ela tanto amou a castidade que pemaneceu Virgem em sua vida inteira. Da boca do Anjo foi a Ela explicado que além de permanecer sua perpétua virginidade, teria a alegria de ser mãe!(Lc 1,28-33).

 Há várias devoções relacionadas a esta virtude de Maria. Entre elas o Ofício da Imaculada Conceição que é basicamente uma oração para defender este dogma. Nossa Senhora também apareceu à Santa Bernadette dizendo em uma de suas últimas aparições ' Eu sou a Imaculada Conceição '. Ainda há a Ordem da mesma, pedida por Nossa Senhora a Santa Beatriz.

 É essa pureza virginal e única, que acompanhou a inteira vida de Maria que chamamos a Imaculada Conceição.